Travessia de SUP da Praia do Camburi até Picinguaba, passando pela Ilha das Couves
Lembro da última vez que estive na Ilha das Couves, até escrevi aqui. É um lugar mágico. A água azul tá sempre transparente e tartarugas gigantes passeiam do lado das praias, sem medo dos visitantes. Dizem que lá tem uma coisa meio mística. Falam da energia do lugar. E não faltam histórias misteriosas, difíceis de explicar. Entre elas está o muro submerso que ninguém sabe quem construiu, muito menos o por quê. O fato é que atrai uma quantidade de vida marinha que não se vê em outras partes de Ubatuba. O muro virou um dos melhores pontos de mergulho de todo o litoral paulista.
Histórias do Passado
Falam também que no famoso verão da lata, na década de 1980, quando um navio da Indonésia despejou maconha enlatada no mar, uma quantidade muito grande foi encontrada justamente nas praias da Ilha das Couves. É como se a ilha fosse um imã. E até pouco tempo atrás, se manteve praticamente intocada, recebendo poucos visitantes, principalmente aventureiros, que se dispunham a atravessar o mar turbulento em frágeis embarcações de madeira. Mas recentemente, a força de atração da ilha passou também a trazer cada vez mais turistas. Eles vêm em bandos como que enfeitiçados pelo canto da sereia. Nesse transe (só isso explica o desrespeito) largam lixo em todos os cantos e transformam a mata num enorme banheiro. Os peixes e toda a fauna marinha parecem estar indo embora. Fundação Florestal e ambientalistas estão desesperados com a situação. O paraíso que a ilha foi um dia já não existe mais.
Começo da Trevessia
Para averiguar se esses relatos que vinha recebendo eram verdadeiros, resolvi visitar a Ilha das Couves mais uma vez. Chamei dois amigos para sair remando de SUP da Praia do Camburi (a última de Ubatuba, antes de Paraty), passar pela Brava do Camburi, seguir até a Ilha das Couves e voltar. Então saímos cedo, com maré baixa e logo já tivemos uma surpresa positiva. A Camburi de Ubatuba é maravilhosa! Lá tem uma comunidade caiçara super autêntica que se orgulha da cultura da pesca, da construção de canoas de madeira e do estilo de vida do mar.
Praia do Camburi
A praia em si também é um espetáculo. Na beira da areia um conjunto de árvores frondosas embelezam o visual e ainda fazem sobra para quem quer ficar apreciando a vista. Ela fica numa baía fechada, mas ainda assim dá para ver o mar aberto. No canto direito tem um conjunto de pedras que forma quase uma piscina natural. Ali a água é tão clara que de cima da prancha dá para enxergar o fundo de areia, branquinho.
Praia Brava do Camburi
Fomos remando bem devagar, tentando passar o mais perto possível da costa, impressionados com a natureza local. Contornamos a primeira ponta de pedras, passamos por uma pequena enseada (onde fica a minúscula Prainha do Camburi) e chegamos na Praia Brava do Camburi. Seguimos paralelos a longa faixa de areia, no limite de onde as ondas quebram. Afinal, essa praia é um famoso pico de surfe de Ubatuba e as ondas podem ser bem grandes ali.
Descemos na extremidade direita, onde um rio faz um delta quando desagua no mar. A praia tem quase 1 km de extensão e mal dava para ver a outra ponta. No costão de pedra mais uma piscina natural se formava e de novo ficamos impressionados com a claridade da água do mar.
Continuamos pela imensa costa de pedras, sem praias. Ali o vento nos pegou meio de trás, meio de lado, e as ondulações vinham de todos os lados, porque batiam nas pedras e voltavam. Então caímos muitas vezes das pranchas. Foi um trajeto bem cansativo.
Chegando na Ilha das Couves
Chegar no arquipélago, que leva o nome de Ilha das Couves, foi um alívio. Abrigados das ondas, pudemos remar com mais calma. Mas logo percebemos o enorme fluxo de barcos, vindos de Picinguaba e de várias outras praias de Ubatuba. Os barcos de alumínio, as famosas voadeiras, vinham lotados e voltavam vazios. Os barqueiros deixavam os turistas em alguma das duas praias da ilha e combinavam de pegar mais tarde.
Descemos nas duas praias e a decepção foi a mesma em ambas. Elas estavam muito cheias. Lotadas mesmo. Nem dava vontade de fotografar. Na primeira só aproveitamos para comer o lanche que tínhamos levado e tomar o resto da água, num pedacinho de areia que ainda estava livre. Na segunda levantei o drone. De cima não parecia tão catastrófico. A mata ainda é super densa e a água é ainda mais transparente (se é que isso é possível) do que na Brava do Camburi.
Volta
Não aguentamos muito tempo na muvuca. Voltamos para as pranchas e começamos a remar de volta para a Praia do Camburi. Agora o vento estava contra e tinha ficado ainda mais forte. O tempo estava fechando. Algumas nuvens negras despontavam no horizonte. Camburi estava muito longe e achamos que seria um esforço maior do que o prazer de remar. Então decidimos seguir para Picinguaba que era bem mais perto. Ali pediríamos para alguém nos levar para Camburi de carro, para resgatar o nosso próprio. E foi exatamente isso que fizemos.
Vida de Pescador
Na chegada em Picinguaba foi outro susto. O pacato vilarejo caiçara parecia ter se transformado num estacionamento de shopping center. Era carro que não acabava mais. E com tanto carro assim, não foi difícil achar um que nos levasse até Camburi. Um dos moradores da vila se ofereceu. Era o Ivan, um pescador que na alta temporada trabalha levando turistas para a Ilha das Couves, numa voadeira. Disse que ganha muito mais com o turismo do que com a pesca. Todos os pescadores da região fazem a mesma coisa. Até eles têm que comprar peixe para comer porque, no verão, ninguém sai para pescar. Triste né? Parece que a sereia fez uma confusão em todo mundo.
DADOS DA TRAVESSIA DE SUP EM UBATUBA
Distância = 19 km
Duração = 4 horas de remada
Cidade = Ubatuba, SP
ALUGUEL DE PRANCHA DE STAND UP NA ILHA DAS COUVES
Lá não tem aluguel de prancha, mas você pode alugar o SUP em Picinguaba e ir remando (se for bem experiente), ou pedir para algum barqueiro levar para você até lá.
Texto e fotos: Daniel Aratangy