Travessia de Stand Up no Pouso da Cajaíba, em Paraty
Praia Pouso da Cajaíba, no município de Paraty |
A primeira vez que vi o Pouso da Cajaíba foi de cima, do avião. Estava indo de São Paulo ao Rio e fui reconhecendo as praias que já tinha remado: São Sebastião, Ilhabela, Caraguá e Ubatuba. Gradualmente a paisagem ficou mais selvagem, com menos casas e mais floresta. O lugar mais isolado em todo o caminho era a Enseada da Cajaíba e, a oito mil metros de altitude, tive a certeza de que ainda remaria por lá.
Pouso da Cajaíba visto pela janela do avião |
Foi o que fiz: saí de São Paulo em direção ao litoral sul do Rio. Parei para dormir na pousada Paraty Paradiso, em Parati-Mirim. Contei meu plano aos donos Pedro e Viviane. Queria sair cedo com um barqueiro até o Pouso da Cajaíba. De lá, voltaria remando, passando por todas as praias da enseada. Eles me chamaram de maluco. Falaram que a remada era muito longa e que uma frente fria chegaria no dia seguinte, com ventos fortes.
Igrejinha na praia Pouso da Cajaíba |
Também contaram sobre os perigos da Ponta da Joatinga, que é um dos lados do Pouso. Os ventos e ondas são tão fortes que a região é conhecida como “Triângulo das Bermudas” brasileiro. Muitos marinheiros experientes morreram em naufrágios e helicópteros desapareceram ali (como o do político Ulisses Guimarães). Ainda assim, segui como planejado. O dia estava lindo. Não queria perder a chance.
Praia Itaoca, no Pouso da Cajaíba |
O pouso da Cajaíba está isolado do resto do mundo. Primeiro porque é difícil chegar lá. De carro não tem como. A pé, só por trilhas de um dia. Eu fui de voadeira e levei uma hora.
Praia Itanema, com a Ilha Grande no fundo |
Além disso, tem o isolamento cultural. Parece coisa de viagem no tempo, mas lá ainda não tem internet. A energia elétrica está chegando só agora. O celular pega apenas em alguns pontos, sem 4G, 3G, nada. O contato com o mundo acontece com os raros turistas e pela televisão.
Canoa no Pouso da Cajaíba |
Pouso da Cajaíba |
Casa na praia Itanema, no Pouso da Cajaíba |
Desembarquei na praia mais distante, que dá nome à enseada, a Praia do Pouso da Cajaíba. As casas são coloridas e ficam com as janelas abertas para receber a brisa do mar. Vi moradores sentados nas varandas e outros fazendo a manutenção de barcos e redes.
Joguei o SUP no mar e remei bem perto da costa. No caminho, cruzei com tartarugas e cardumes de peixes coloridos. Parei em todas as praias. Numa delas, vi moradores pescando com arpões. Em menos de 5 minutos, mais de uma dúzia de peixes grandes foram jogados dentro dos barcos de madeira.
Caiçaras pescando na Praia do Calhau, no Pouso da Cajaíba |
A última parada foi na praia menos habitada de todas, a Grande do Cajaíba. Lá tem um quiosque de palha que, para minha surpresa, estava lotado. Um veleiro tinha trazido turistas franceses e os trabalhadores que levavam energia elétrica estavam almoçando ali.
Vista na Praia de Calhaus |
Cachorro na praia Itanema |
Sentei na mesa com o engenheiro responsável pela obra. Enquanto almoçávamos, ele me contou como era difícil levar postes em trilhas íngremes e fechadas. Loucura! Torço para que os moradores desfrutem da melhoria sem alterar a beleza e a simplicidade local.
Praia Itanema, no Pouso da Cajaíba |
Depois do almoço, fui conhecer a cachoeira da Praia Grande. Após apenas dez minutos de caminhada, cheguei no poço de água doce. Entrei rapidamente para não perder tempo. Afinal, o vento estava ficando mais forte e ainda tinha muita remada pela frente.
Cachoeira da Praia Grande, no Pouso da Cajaíba |
Já no mar, fui costeando, passei pela Praia Deserta, a última da enseada, num longo percurso até a Ponta da Cajaíba. Ali fui pego por um vento fortíssimo e contrário. Consegui, com muito esforço, seguir até uma área abrigada e descansei um pouco. O vento tava insano, de um jeito que nunca tinha pegado antes. Lembrei dos donos da pousada, da frente fria que estava por vir e das histórias da Ponta da Joatinga. Ali não tinha casa nenhuma. A costa era de pedras, sem praias. Reuni todas minhas forças e voltei a remar. Perto das pedras o vento era um pouco mais fraco, mas ainda assim enorme.
Rio na Praia Grande do Pouso da Cajaíba |
Remava com força total, mas mal saía do lugar. Tentei remar sentado e consegui avançar poucos quilômetros. Quando cheguei na outra ponta, já na entrada do Saco do Mamanguá, tive que me afastar da costa e enfrentar o vento em sua intensidade máxima. Parati-Mirim estava logo na frente, mas não tinha como avançar. Eu remava e praguejava, suando muito apesar do frio trazido pelo vento. Até que desisti. Voltei para a costa, entrando no Saco, procurando uma casa. Na primeira que vi, parei, pedi ajuda e consegui uma carona de bote a motor. Obrigado Danila!
Mapa da travessia de Stand Up Paddle, do Pouso da Cajaíba até o Saco do Mamanguá |
Distância = 17 km
Duração = 3 horas e 30 minutos
Vento = no começo variou bastante (tanto de direção quanto de intensidade), no final foi o vento mais forte que já peguei (contra)
Ondas = sem ondas
Valor = R$ 130 o trajeto de barco
Texto e fotos: Daniel Pluk