cultura mar RJ travessia trilha

Cajaíba, o Triângulo das Bermudas Brasileiro

Travessia de Stand Up no Pouso da Cajaíba, em Paraty

Pouso da Cajaiba Paraty RJ
Praia Pouso da Cajaíba, no município de Paraty

 

A primeira vez que vi o Pouso da Cajaíba foi de cima, do avião. Estava indo de São Paulo ao Rio e fui reconhecendo as praias que já tinha remado: São Sebastião, Ilhabela, Caraguá e Ubatuba. Gradualmente a paisagem ficou mais selvagem, com menos casas e mais floresta. O lugar mais isolado em todo o caminho era a Enseada da Cajaíba e, a oito mil metros de altitude, tive a certeza de que ainda remaria por lá.
 
foto-aerea-cajaiba
Pouso da Cajaíba visto pela janela do avião

 

Foi o que fiz: saí de São Paulo em direção ao litoral sul do Rio. Parei para dormir na pousada Paraty Paradiso, em Parati-Mirim. Contei meu plano aos donos Pedro e Viviane. Queria sair cedo com um barqueiro até o Pouso da Cajaíba. De lá, voltaria remando, passando por todas as praias da enseada. Eles me chamaram de maluco. Falaram que a remada era muito longa e que uma frente fria chegaria no dia seguinte, com ventos fortes.

 
img_0452a
Igrejinha na praia Pouso da Cajaíba

Também contaram sobre os perigos da Ponta da Joatinga, que é um dos lados do Pouso. Os ventos e ondas são tão fortes que a região é conhecida como “Triângulo das Bermudas” brasileiro. Muitos marinheiros experientes morreram em naufrágios e helicópteros desapareceram ali (como o do político Ulisses Guimarães). Ainda assim, segui como planejado. O dia estava lindo. Não queria perder a chance.
 
itaoca cajaiba paraty
Praia Itaoca, no Pouso da Cajaíba

 
O pouso da Cajaíba está isolado do resto do mundo. Primeiro porque é difícil chegar lá. De carro não tem como. A pé, só por trilhas de um dia. Eu fui de voadeira e levei uma hora.
 
cajaiba sup
Praia Itanema, com a Ilha Grande no fundo
 
 
Além disso, tem o isolamento cultural. Parece coisa de viagem no tempo, mas lá ainda não tem internet. A energia elétrica está chegando só agora. O celular pega apenas em alguns pontos, sem 4G, 3G, nada. O contato com o mundo acontece com os raros turistas e pela televisão.
 
img_0465a
Canoa no Pouso da Cajaíba
 
 
pouso cajaiba rio de janeiro
Pouso da Cajaíba
 
casa caicara pescador
Casa na praia Itanema, no Pouso da Cajaíba
 
 
Desembarquei na praia mais distante, que dá nome à enseada, a Praia do Pouso da Cajaíba. As casas são coloridas e ficam com as janelas abertas para receber a brisa do mar. Vi moradores sentados nas varandas e outros fazendo a manutenção de barcos e redes.

Pouso Stand up Pratay
Pouso da Cajaíba, em Paraty

 

Joguei o SUP no mar e remei bem perto da costa. No caminho, cruzei com tartarugas e cardumes de peixes coloridos. Parei em todas as praias. Numa delas, vi moradores pescando com arpões. Em menos de 5 minutos, mais de uma dúzia de peixes grandes foram jogados dentro dos barcos de madeira.

 
pescadores caicara paraty
Caiçaras pescando na Praia do Calhau, no Pouso da Cajaíba
 
A última parada foi na praia menos habitada de todas, a Grande do Cajaíba. Lá tem um quiosque de palha que, para minha surpresa, estava lotado. Um veleiro tinha trazido turistas franceses e os trabalhadores que levavam energia elétrica estavam almoçando ali.
 
passaro do mar
Vista na Praia de Calhaus
 
 
cachorro na praia pouso
Cachorro na praia Itanema
 
 
Sentei na mesa com o engenheiro responsável pela obra. Enquanto almoçávamos, ele me contou como era difícil levar postes em trilhas íngremes e fechadas. Loucura! Torço para que os moradores desfrutem da melhoria sem alterar a beleza e a simplicidade local.
 
itanema pouso
Praia Itanema, no Pouso da Cajaíba
 
 
Depois do almoço, fui conhecer a cachoeira da Praia Grande. Após apenas dez minutos de caminhada, cheguei no poço de água doce. Entrei rapidamente para não perder tempo. Afinal, o vento estava ficando mais forte e ainda tinha muita remada pela frente.
 
grande do pouso cachoeira
Cachoeira da Praia Grande, no Pouso da Cajaíba
 
Já no mar, fui costeando, passei pela Praia Deserta, a última da enseada, num longo percurso até a Ponta da Cajaíba. Ali fui pego por um vento fortíssimo e contrário. Consegui, com muito esforço, seguir até uma área abrigada e descansei um pouco. O vento tava insano, de um jeito que nunca tinha pegado antes. Lembrei dos donos da pousada, da frente fria que estava por vir e das histórias da Ponta da Joatinga. Ali não tinha casa nenhuma. A costa era de pedras, sem praias. Reuni todas minhas forças e voltei a remar. Perto das pedras o vento era um pouco mais fraco, mas ainda assim enorme.
 
rio praia grande do pouso
Rio na Praia Grande do Pouso da Cajaíba
 
Remava com força total, mas mal saía do lugar. Tentei remar sentado e consegui avançar poucos quilômetros. Quando cheguei na outra ponta, já na entrada do Saco do Mamanguá, tive que me afastar da costa e enfrentar o vento em sua intensidade máxima. Parati-Mirim estava logo na frente, mas não tinha como avançar. Eu remava e praguejava, suando muito apesar do frio trazido pelo vento. Até que desisti. Voltei para a costa, entrando no Saco, procurando uma casa. Na primeira que vi, parei, pedi ajuda e consegui uma carona de bote a motor. Obrigado Danila!
 
cajaiba-mapa-sup
Mapa da travessia de Stand Up Paddle, do Pouso da Cajaíba até o Saco do Mamanguá
Distância = 17 km
Duração = 3 horas e 30 minutos
Vento = no começo variou bastante (tanto de direção quanto de intensidade), no final foi o vento mais forte que já peguei (contra)
Ondas = sem ondas
Valor = R$ 130 o trajeto de barco
Cidade = Paraty RJ
Texto e fotos: Daniel Pluk
 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *