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Convidados do site remando no Nepal

Meus amigos Deco Adjiman e Bel Pimenta tiraram quatro meses sabáticos para conhecer o sudeste asiático. Em paisagens deslumbrantes fazem muitas aventuras. Numa delas, usaram a prancha de Stand Up Paddle para conhecerem mais a cultura do Nepal. Confiram abaixo o relato.

 

SUP no Nepal

Lembro que quando eu tinha uns 16 anos, e minha grande paixão era o surf, eu matava as longas horas das aulas de física ou matemática desenhando a minha ilha perfeita. Ela seria completamente isolada, com várias praias perfeitamente alinhadas para receber todas as ondulações que resultariam em ondas quebrando em fundos de coral, pedra ou areia. Ondas para a direita e esquerda, algumas longas e gordas, outras mais rápidas e tubulares. Uma cabana, coqueiros e uma fonte de água doce: estava feito meu paraíso que normalmente acabava com uma chamada do professor.

 
Bel e Deco curtindo a remada

Se naquela época eu já fosse apaixonado pelo SUP, creio que em algumas aulas trocaria a ilha por um lago. Desenharia esse lago em um país distante, exótico, com outra língua, outra escrita, outro aroma, outra gente. Seria um lago de proporções enormes e com desenho todo recortado, formando pequenas e longas baias. Em um dos lados teria uma cidadezinha em festa, com comida boa, barata e gente sorridente. No outro extremo uma margem mais selvagem, com uma densa mata verde e berros de macacos e sussurros de pássaros. Entre esses dois lados um quase pântano com pequenas vilas em que os pescadores fariam cercados de bambus que virariam labirintos para a remada. Para completar, cercaria esse lago com grandes montanhas verdes por todos os ladose, para dar o toque final, no topo de uma dessas montanhas, bem na direção do poente colocaria um grande templo budista e, no lado oposto, recortaria o céu com a maior cadeia de montanhas do planeta: os himalaias.

 
Barcos de trasporte da população local

 

Logicamente não tive criatividade suficiente para desenhar esse lago, mas tive a felicidade de, por 2 dias, remar nele. Phewa Lake, na cidade de Pokhara, um dos destinos turísticos mais especiais do Nepal. Pokhara é a segunda maior cidade do país, mas é completamente diferente da loucura intensa de Kathmandu. Estivemos por lá durante o Dewali, um dos feriados mais importantes do Hinduismo, em que os comerciantes enfeitam seus estabelecimentos com cores e luzes para atrair a deusa Lakshimi, que representa a prosperidade. O clima era realmente de festa com diversas rodas de dança e música por todos os cantos. A cidade é famosa principalmente por ser o ponto de partida para os longos trekkings nas montanhas do Amnapura Range e seus 5 picos acima dos 8.000 mts, mas o lago Phewa também atrai uma porção de turistas. Talvez a atividade mais clássica seja alugar a sua própria canoa e remar no estilo local até a margem oposta para pegar a trilha, de cerca de 1 hora, morro acima. No topo esta a fabulosa World Peace Pagoda, templo budista, que oferece uma das melhores vistas da cidade e das montanhas. Infelizmente no fim de tarde que subimos algumas nuvens encobriam quase todo o perfil dos Himalaias.
 
 

 

Barcos no Phewa Lake

 

Já no primeiro dia encontramos umas pranchas de SUP para alugar, reservamos para manhã seguinte e remamos por cerca de 2 horas. Fomos no sentido sul, cruzando uma ilhota com um pequeno e festivo templo Hindu, fomos fotografados por dezenas de Japoneses em seus coletes salva-vidas e botinhos guiados. Um ponto positivo do lugar é que aparentemente barcos com motor são proibidos, o que deixa o som ser dominado pelos cânticos do Dewali e as enlouquecidas buzinas na margem mais urbana e os pássaros e macacos na outra. O clima estava perfeito, sol completo sobre nossas cabeças, sem ser quente demais, quase sem vento e praticamente sem corrente. Ficamos boiando ou remando com preguiça até o extremo sul. Flagramos uma turma local em um divertido mergulho e, pelo que percebi, o biquíni – mesmo com shortinho – da minha mulher, alegrou-os ainda mais. Nesse canto tivemos a visão mais bonita das montanhas nevadas do Himalaia sobre o vale verde da cidade, foi por ali que a Bel me disse “acho que só essa remada já valeu a viagem toda” meio pretensioso para o 10º dia de uma viagem de quase 4 meses, mas tive que concordar.  Devolvemos as pranchas e reservamos para o mesmo horário no dia seguinte.
 
 
World Peace Pagoda – templo budista com vista para p lago


O dia amanheceu bem nublado e meio frio, a preguiça e o vinho do jantar nos deixou rolando na cama, mas no meio do dia o céu já estava azul e fomos atrás da prancha.  Combinamos um ponto de encontro em uma ponta de baia no extremo oeste do lago, que era para onde o vento levava, e a Bel deixou o Pehwa levá-la para lá, enquanto eu fui contornando toda a margem leste e norte. Passei por algumas vilas ganhando aceno e sorrisos, encontrei pescadores, mais japoneses fotógrafos e nenhum outro SUP. Durante a remada passei por 3 pontos de pouso de Paraglaider, outro esporte muito praticado por lá. No extremo norte do lago forma-se um rio que escorre para dentro do pântano com alguma força, mas nada muito difícil de transpor, mas dei um apoio moral para um grupo de locais que levava material de construção. Remei sem parar por cerca de uma hora e meia até encontrar a Bel mais ou menos no ponto combinado. Paramos em uma dessas baias para um mergulho, o barulho dos macacos era impressionante. Relaxamos por algum tempo e encaramos a volta, contra o vento, para devolver a prancha sem ter que pagar nenhum extra.
 
 
A cidade de Pokahara no Nepal, com o lago Phewa onde Deco e Bel andarem de SUP



O Nepal é um grande destino para esportes outdoor, algumas agências de Pokhara que fazem tours de rafting também oferecem descidas de corredeiras no SUP, não tive tempo de fazer mas é uma dica que deve ser muito bacana, ainda mais selvagem no interior do pais.

Barco no lago Phewa

 

Durante a remada pensamos muito no Pluk, grande companheiro e inspirador do SUP que ia enlouquecer nessa remada por ser também um apaixonado pelas montanhas, por isso quis escrever esse relato. Escrevo da Índia, diante de um outro lago alucinante na cidade Udaipur. Aqui infelizmente não consegui achar um SUP, nem mesmo um barquinho que não seja um desses enlatados para turistas alemães em seus salva-vidas, além disso o lago Pichola é tristemente sujo demais. Alguns outros lagos e muitas outras baias estarão no meu caminho, espero ter novamente a sensação que tive no Pehwa e poder mandar mais algum relato!
 
Deco e Bel nas pranchas de Stand Up Paddle no Nepal


Escrito por Deco Adjiman
Fotos de Bel Pimenta


 
 
 

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