“Ainda vou andar de SUP aqui”, eu pensava toda vez que passava nas pontes sobre a Represa de Paraibuna, no meu caminho para o litoral norte paulista. O visual chama muita atenção. Da estrada dá para ver que a represa é grande, com as margens desabitadas. Pensando no trajeto que faria, fui ver o mapa da região e constatei que o reservatório é MUITO maior do que imaginava. É imenso! Para ser exato, tem incríveis 760 km de perímetro, com 204 ilhas. Mil travessias podem ser feitas lá.
Trajeto de SUP na Represa de Paraibuna |
Descobri também que a represa ganhou um prêmio na Eco 92 pela qualidade da água. Até hoje é considerada nível 1 (que não tem nenhum tipo de poluição). Uma parte está no limite do Parque Estadual da Serra do Mar e ainda tem as margens ocupadas apenas pela Mata Atlântica. Em outros pontos há pastos para criação de gado.
SUP pronto para travessia em Natividade da Serra |
Como primeiro trajeto, resolvi pegar uma estradinha que sai da Tamoios 1 km antes da serra e ver onde iria dar. A estrada parece ter sido asfaltada num passado distante. Muitos buracos e pedaços só de terra. Logo no começo vi dois macacos atravessando a via, pulando dos galhos sobre mim. Um pouco depois parei num mirante. Pude perceber que estava na crista de uma grande montanha e de lá dava para ver Ubatuba, Caraguatatuba, Ilhabela e São Sebastião. Um carro da polícia florestal veio em sentido contrário e aproveitei para pedir informações de como chegar à margem da represa. “Sempre em frente”, me disseram os policiais. Realmente passei por uma bifurcação logo a seguir, por um caminho que se tornava mais e mais estreito. Fiquei impressionado como a estrada continuou “asfaltada” até o final, onde mal havia largura para passar o carro.
Outra cachoeira no caminho de Stand Up |
Parei em frente a uma cachoeira enorme. Dali em diante só de Stand Up mesmo. Passei por muitos Ipês coloridos, amarelos e roxos. E muitos pássaros, principalmente gaviões (creio eu) e algumas garças e mutuns (galinhas selvagens).
Libélula descansando em uma das árvores mortas |
Vi outras cachoeiras desaguando direto na represa. Mas o que mais chamavam a atenção eram as árvores que saíam de dentro da água. Davam um ar mórbido ao passeio. Depois da conclusão das obras da represa em 1978, a área foi toda alagada e uma floresta ficou submersa. As árvores mais antigas e maiores mantêm suas copas (agora secas) para fora da água. O cenário é incomum, causa estranhamento, até parece saído de um filme apocalíptico. Me senti um arqueólogo futurista buscando sozinho vestígios de uma civilização já morta.
Navegar nessas águas é um desafio à parte. A grande quantidade de ilhas, baías, penínsulas e canais formam um labirinto sem fim. E o cenário muda ainda mais, dependendo se é época de seca ou de cheia. Cheguei a entrar num caminho sem saída, mas dei a volta e segui para o outro lado. O tempo todo eu marcava mentalmente pontos de referência (uma grande erosão, um ipê que se destacava, etc.) para saber como voltar ao carro.
Prancha de SUP na floresta submersa |
O vento ficou mais forte, a favor. E estava tão gostoso que resolvi continuar mesmo sabendo que a volta seria difícil. Enquanto o céu se enchia de nuvens pretas, remei mais alguns quilômetros até que o vento ficou muito forte e decidi voltar. Foi puxado. Em alguns momentos amarrei a prancha numa árvore para descansar. Mas devagar consegui avançar, até que o vento deu uma trégua. Cheguei no carro junto com os primeiro pingos de chuva.
Prancha de SUP amarrada à arvore |
Distância = 15 km
Duração = 3 horas e 30 minutos
Vento ida = no começo fraco e depois forte, a favor
Vento volta = no começo muito forte e depois fraco, contra
Cidade = Natividade da Serra
Texto e fotos: Daniel Pluk