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Antes de Sair, Decore o Mapa

Depois de escolher seu percurso, veja e reveja o mapa até decorar cada reentrância da costa. Isso vai ajudar a se localizar enquanto estiver remando, te deixando menos ansioso e mais preparado para qualquer eventualidade.

travessia da Ponta da Juatinga era um sonho antigo para mim. Pensava nela há muito tempo e olhava quase todos os dias o trajeto entre Parati-Mirim e o Condomínio Laranjeiras, em Paraty, no mapa que tenho na parede de casa.

Apesar de ter planejado essa travessia por anos, acabei escolhendo a data errada para fazê-la e ela se tornou a travessia mais difícil que fiz, até hoje. A Ponta da Juatinga já é famosa pelo mar turbulento, pelos inúmeros naufrágios e acidentes aéreos, e eu ainda remei em um de seus piores dias. Peguei vento contrário muito forte e ondas, também em sentido oposto, quebrando mesmo longe da costa. Remava e remava e praticamente não saía do lugar. Passei a remar ajoelhado e mesmo assim a prancha virava com a força das ondas. Como tinha o mapa na cabeça, não me desesperei. Sabia que se não aguentasse mais, o vento me levaria para o Pouso da Cajaíba e ali poderia me abrigar. Também sabia que, no meio daquela imensa península sem praias, havia uma pequena baía que poderia usar para descansar, porque se não fosse ali, cada segundo que eu ficasse sem remar, representariam metros perdidos, com o vento me levando para trás.

Quase no final da Ponta, o vento e as ondas ficaram tão fortes que percebi que não conseguiria continuar. Estava avançando em um ritmo lento demais, usando todas as minhas forças físicas e mentais. Foi então que lembrei novamente do mapa. Tinha visto que um pouco antes da virada da Ponta da Juatinga, havia um estreitamento da península: ela ficava mais fina e pensei que, se não fosse muito alta, conseguiria atravessar a pé, com a prancha embaixo do braço. Então reuni minhas últimas forças para avançar até aquele ponto e a hora que cheguei lá e constatei que conseguiria mesmo fazer esse pedaço por terra, minha boca se abriu num sorriso imenso e involuntário. Minhas forças e, principalmente meu ânimo, voltaram. Depois, descobri que os caiçaras da região chamam aquele pedaço da península de “cela”, justamente por ser um pedaço baixo, entre duas montanhas, como a cela de um cavalo.

Quando fiz a segunda travessia de volta na Ilha Grande, saindo de Angra dos Reis e voltando para Angra, imprimi o mapa do percurso e mandei plastificar. Durante toda a travessia deixei o mapa posicionado na prancha de uma maneira que poderia vê-lo mesmo quando estava em pé, remando. Isso me ajudou muito. Sabia o tempo todo em que ponto da travessia eu estava, o que me deixou menos ansioso e mais concentrado.

Texto e fotos: Daniel Aratangy

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