Da Praia da Ponta Aguda ao Saco das Bananas, em Ubatuba
Apesar de frequentar Ubatuba desde que nasci, só fui conhecer as praias desertas do sul do município em 2013. Antes disso, mal sabia que elas existiam. Mas quando fui a primeira vez, remando com minha primeira prancha de stand up paddle, fui fortemente impactado. Que praias incríveis! Uma mais bonita que a outra. Aquela Praia da Lagoa é uma joia rara! E ainda tive a sorte de ver golfinhos na Ponta Aguda. Impressionante!
Desde então, voltei muitas vezes para região. Inclusive, cheguei a montar um grupo de remadores e os levei da Praia da Tabatinga (em Caraguatatuba) à Praia da Lagoa, ida e volta. E todos ficaram abismados com tanta beleza selvagem e desconhecida.
Comecei a inventar trajetos para poder passar por lá. O mais audacioso foi contornar toda a península, saindo da Tabatinga e terminando na Maranduba. O trajeto, de 21 km, foi cansativo, mas delicioso de fazer.
Novo Trajeto
Dessa vez escolhi um trajeto menor, saindo da Praia da Ponta Aguda. Para chegar lá é preciso percorrer uma estrada de terra bem esburacada e com pedaços bastante íngremes. A estrada começa exatamente na divisa entre os municípios de Ubatuba e Caraguatatuba. É cercada por Mata Atlântica e ela já vale o passeio.
Cheguei na Praia da Ponta Aguda bem cedo, logo após o nascer do sol. Não havia nenhum carro estacionado e ninguém à vista. Tirei a prancha do rack e levei até a praia. A luz do amanhecer estava linda. Aproveitei para subir o drone e capturar algumas imagens. Logo em seguida, um grupo de pescadores chegou, caminhando em direção à Praia Mansa. Fiz fotos deles ao lado do rio que desagua na Ponta Aguda.
O mar estava bem calmo, sem ondas nem vento forte. Parei logo adiante, na Praia Mansa. Ela também estava vazia. O sol começava a aparecer atrás do morro baixo. Fiz algumas fotos e segui contornando a Ponta. Imediatamente as ondas e o vento ficaram mais fortes. Enquanto remava com a Praia da Lagoa no meu ombro esquerdo, avançava no sacolejo das ondulações, que batiam nas pedras e voltavam.
Praia do Simão (ou Brava do Frade)
Apesar da Praia da Lagoa ser uma das minhas preferidas, passei reto por ela, em direção à Praia do Simão. Vi um peixe enorme dando um salto para fora da água. Quando caiu, a força do seu peso fez um grande barulho e levantou bastante água. Ali as ondas quebram fortes demais. Chegando perto da areia, tive que remar ajoelhado e esperar o melhor momento para desembarcar. Remei forte num breve intervalo das ondas e, mesmo assim, fui ejetado da prancha pela força do mar. Recuperei meu saco estanque e corri com a prancha para a praia.
A Praia do Simão é mais uma preciosidade de Ubatuba. O acesso a ela é um dos mais difíceis de todas as praias do município e, por isso, ficou isolada. Contudo, na última vez que estive ali, vi muito lixo deixado pelas pessoas que acampam nas sombras de suas árvores. Dessa vez foi diferente. A praia estava totalmente limpa. Costumo recolher um pouco do plástico que encontro jogado, mas não dá pra carregar muita coisa na prancha de SUP. Provavelmente alguém, ou alguma ONG, organizou um mutirão ali. Porque, realmente, não dava pra ficar mais limpa do que estava.
A praia é enorme e de tombo. No canto direito tem uma pequena queda de água, que o pessoal chama de cachoeira. Mais ou menos no meio da praia, a foz de um rio de água avermelhada tinge a areia enquanto flui até o mar. Caminhando para o fundo da praia, depois do rio, tem um pedaço plano e largo com árvores espaçadas num grande areal. Apesar dos troncos ficarem relativamente distantes uns dos outros, as árvores são grandes e suas copas cobrem toda a área. É mesmo o lugar perfeito para um camping selvagem.
Levei a prancha até lá para protegê-la do sol. Aproveitei para sentar, observar e ouvir. Raios de luz do sol passavam entre as folhas, iluminando partículas suspensas de maresia. Sons de pássaros, do farfalhar das plantas e, principalmente de mar quebrando na areia. Relaxei, me hidratei e comi um lanche que levava no saco estanque.
Dificuldade para Entrar no Mar
Resolvi retomar a travessia de SUP. Recolhi minhas coisas, prendi tudo nos elásticos da prancha, saí da sombra das árvores e olhei a praia. Percorri ela inteira com os olhos, procurando o melhor lugar para entrar na água. De ponta a ponta, não havia um ponto sequer com mar tranquilo. Nas extremidades, as ondas até quebravam menores, mas o fundo era cheio de pedras. Se tomasse um caldo ali, me machucaria com certeza. E não teria ninguém para ajudar. Poderia levar semanas até que alguém aparecesse.
Escolhi um ponto no meio da praia. Perto da água, as ondas pareciam ainda maiores. Quebravam fortes, levantando espuma numa altura bem maior do que a minha. Esperei um intervalo entre as séries de ondas, que nunca vinha. Quebrava uma onda após outra, sem descanso. De repente, vi que duas ondas menores se aproximavam. Era minha oportunidade. Joguei a prancha na água e pulei para cima. Antes de conseguir dar a primeira remada, a ondulação já tinha me derrubado. O saco estanque também ficou pendurado pra fora. Com ele assim, não conseguiria ultrapassar a próxima onda. Tive que voltar para a areia.
Repeti essa operação mais duas vezes – saindo de pontos distintos – e não consegui passar a arrebentação. O mar parecia uma barreira, como se alguém me empurrasse de volta à praia. Lembrei da outra vez que fui à Praia do Simão. Também sofri nesse processo de entrar na água e acabei molhando e inutilizando meu celular. Que loucura! Não podia ficar lá para sempre. Respirei fundo, juntei minhas forças, me concentrei ao máximo e tentei mais uma vez. Pulei na prancha já remando. Vi uma onda alta se aproximando e remei o mais forte que pude. Quando ela começou a quebrar, a prancha estava subindo e a espuma passou toda sobre mim. Consegui me manter ajoelhado, mas o saco estanque caiu de novo no mar, preso no SUP só por um mosquetão. Com esse atrito extra na água não conseguiria passar pela próxima onda, que era ainda maior. Rapidamente – como um raio – reembarquei o saco e voltei a remar. Deu tempo três remadas apenas, mas foi o suficiente para, finalmente, passar por cima da onda, no último segundo possível. Consegui!
A sensação de vencer esses desafios é uma coisa incrível. Dá uma alegria difícil de descrever, porque é totalmente individual, pessoal. Tem gente que acha isso uma grande roubada, mas, para mim, é o que mais gosto de fazer.
Saco das Bananas
Enfim, estava feliz, mas cansado. Então remei devagar até a Praia do Saco das Bananas, que fica a apenas 1 km de distância. Na costa tem umas três casas e, na praia, apenas uma. Alguns barcos de pesca caiçaras parados ali na frente e ninguém à vista. Como o Saco é super abrigado, não havia ondas nem vento e o desembarque na praia foi o mais tranquilo possível. Logo que cheguei, levei a prancha de SUP para a sobra da árvore mais próxima. Era quase meio-dia e queria protege-la do calor excessivo.
A Praia do Saco das Bananas é pequena, com apenas 75 metros. Mas o que mais me chamou a atenção é que não havia uma folha sequer jogada no chão. A areia estava toda rastelada, literalmente. Dava para ver o desenho rastelo, como num jardim japonês. Fiquei pensando em quem fazia esse trabalho e porque o fazia. Até que um enorme lagarto atravessou meu caminho. Quando me viu, saiu em disparada, bagunçando o desenho na areia com seu longo rabo.
Saí de lá direto para a Praia da Ponta Aguda, abrindo o rumo, me afastando um pouco da costa, para aproveitar ao máximo o vento e as ondas que estavam a favor.
DADOS DA TRAVESSIA DE SUP EM UBATUBA
Distância = 12 km
Tempo = 2 horas
*esse é apenas o tempo de remada
ALUGUEL DE PRANCHA DE STAND UP NA PRAIA DA AGUDA
Há quiosques de aluguel de prancha de SUP na praia, aos finais de semana e durante a semana na alta temporada
COMO CHEGAR NA PRAIA DO SIMÃO
O melhor jeito é sempre remando. E você pode sair da Praia Da Tabatinga ou da Praia da Ponta Aguda. Mas a chegada pelo mar na Praia do Simão costuma ser bem complicada e só recomendo para remadores experientes.
Outra maneira é ir pela trilha que sai da Praia da Ponta Aguda. Se quiser, ainda pode fazer um desvio até a Praia da Lagoa.
Texto e fotos: Daniel Aratangy