A sorte de encontrar praias desertas onde quer que eu vá
Tem gente que leva jeito pros esportes, outros têm uma memória incrível, ou tocam instrumentos musicais como ninguém. Meu dom é mais simples, mas muito útil. É o poder de achar praias deslumbrantes e desconhecidas em qualquer lugar do planeta. Isso ficou claro na remada que fiz no litoral sul da Turquia.
Sabia pouquíssimo a respeito da Turquia antes de ir para lá. Não falo a língua, nem conhecia nenhum morador local. Dos poucos amigos que já tinham ido para lá, nenhum tinha visitado suas praias. Mesmo assim percorri de Stand Up Paddle praias completamente desertas, cercadas pela linda floresta mediterrânea e até com sítios arqueológicos abandonados, alguns com construções bizantinas do ano 300 d.C.
O Caminho para Oludeniz, em Fethiye
Depois de passar uma semana trabalhando no interior e na capital, peguei um voo de uma hora de Istambul até Dalaman, na província de Mugla, na região conhecida como Riviera Turca. No aeroporto mesmo aluguei um carro e dirigi para longe das praias badaladas. Foi pouco mais de uma hora até a cidade de Fethiye. De lá ainda subi e desci uma pequena serra até a isolada praia de Oludeniz.
Lagoa Azul
Oludeniz tem uma lagoa no mar impressionantemente linda, mas como tantas outras espalhadas pelo mundo, é mais uma chamada de Blue Lagoon (Lagoa Azul). O tom de azul, a areia branca, as árvores em volta, o tamanho, tudo impressiona. Não consigo descrever sua beleza em palavras. E mesmo essas fotos que tirei não fazem jus ao que vi pessoalmente.
Tudo Vazio
Tinha dois dias inteiros lá e planejei duas remadas com a prancha de SUP inflável que trouxe do Brasil. No primeiro dia, parti cedo na direção oeste. Minha ideia era ir até a Ilha Gemiler, passando reto por algumas enseadas para não ter que remar tanto. Mas quando comei a remar, achei aquele lugar tão lindo, tão diferente, que tive que entrar em cada pequena baía pra ver tudo de perto. Parei numa piscina natural e desci em algumas praias para descansar e fazer fotos. Em todas elas eu era a única pessoa presente.
Remando no Azul
A areia das praias é mais grossa do que estamos acostumados no Brasil. Em algumas praias nem dava pra dizer que aquilo era areia. Tava mais para pequenas pedras mesmo. A água é super transparente. Quando remava perto das pedras, parecia que estava voando sobre um abismo. Mal dava para ver a água. Mais afastado da costa, o mar tem um tom azul muito denso e diferente. Tão forte que não parece natural. Ali, parecia que estava sobre um imenso balde de tinta.
No caminho todo vi muitos peixes, algumas águas-vivas e uma tartaruga. E os morros em volta são tomados pela floresta com vegetação rasteira e algumas árvores da família dos pinheiros. Nenhum barco passou perto de mim. Foi só quando cheguei na Gemiler Island que encontrei uns três veleiros ancorados. Provavelmente tinham passado a noite ali e já estavam se preparando para sair.
Gemiler Island (ou Ilha de São Nicolau)
Com dificuldade subi a prancha pelas pedras até uma das construções bizantinas da ilha. Gemiler tem 1 km por 400 metros e foi habitada entre os séculos IV e V. Hoje em dia não há moradores, mas as ruínas estão por toda parte. Há muitas casas de pedra e as construções maiores são o mosteiro, as igrejas e uma passarela (que já foi totalmente coberta) de 350 metros. No caminho encontrei no chão mosaicos feitos de pedras bem pequenas e afrescos nas paredes.
Trilha Raiz
Como não sabia onde era a “entrada da ilha” subi por um pedaço sem trilha e muito íngreme, entre ruínas com pedras rolando, arbustos espinhosos, teias de aranha e calangos. Já no alto encontrei uma trilha que levava ao topo da ilha. A vista lá de cima vale todo o esforço. É espetacular.
De lá, vi um barco cheio de turistas se aproximar e atracar. Só então descobri onde era o começo da trilha. Mas como tinha deixado minha prancha em outra parte, voltei mais ou menos pelo caminho que tinha feito na ida. Dois veleiros que estavam lá quando cheguei já tinham partido. Também joguei minha prancha no mar e segui um pouco mais adiante. Estava encantado com o lugar e não queria voltar já.
Praia Gemiler
Fui até uma praia na costa, logo em frente, que tinha algumas construções. Não sei se alguém mora ali, mas vi pequenos restaurantes. Desses, apenas um estava aberto e aproveitei para comer uma salada deliciosa.
Descansei um pouco e depois fui ainda mais adiante. Passei por um buraco na pedra da encosta e continuei até as últimas praias daquela enseada. Voltei passando por fora da ilha. Ali a encosta é ainda mais íngreme, um verdadeiro paredão. E segui até a Lagoa Azul.
Blue Lagoon
A Lagoa Azul tem mais de 1 km de extensão e a entrada é relativamente estreita, com apenas 78 metros de largura. Ali dentro tem muitos restaurantes e hotéis, mas eles se concentram no lado norte da lagoa. A parte sul é tomada pela floresta e não tem praias. Remei até fundo dela e voltei para a Praia de Oludeniz, feliz por ter encontrado esse lugar especial para remar.
DADOS DA TRAVESSIA DE SUP 1 NA TURQUIA
Distância = 20 km
Tempo = 3 horas de remada
Cidade = Oludeniz, Fethiye, Riviera Turca, Turquia
ALUGUEL DE PRANCHA DE STAND UP EM OLUDENIZ, TURQUIA
COMO CHEGAR EM OLUDENIZ
De Istambul para Dalaman é uma hora e quinze de voo, de lá para Oludeniz mais uma hora e meia de carro.
COMO CHEGAR NA GEMILER ISLAND (ILHA DE SÃO NICOLAU)
Remando de SUP é um visual incrível, mas a distância pode ser um impedimento para os menos experientes. Então diariamente saem barcos de turistas de Oludeniz para lá. Outra opção é ir de carro até a praia em que almocei, Gemeli Plaji (Gemiler Beach) e de lá é uma remada curta de apenas 500 metros e também há barqueiros que fazem a travessia.
Texto e fotos: Daniel Aratangy