Represa de Paraibuna é um ponto incrível para quem gosta de SUP, caiaque e esportes aquáticos em geral
A vida inteira indo de São Paulo para Ubatuba e de Ubatuba para São Paulo me fez um profundo conhecedor da Rodovia dos Tamoios, a SP – 99. Conheço cada curva, radar fixo, radar móvel, posto de gasolina, restaurante… enfim, tudo que dá pra conhecer de uma estrada. E sempre fiquei impressionado com o visual. Começa com um mar de morros pelados, vaquinhas pastando, aquela coisa rural. Passando pela cidade de Paraibuna, dá pra ver de longe a torre da igreja de 1870. Depois, as pastagens vão sumindo e a Mata Atlântica toma conta da paisagem, principalmente nos limites do Parque Estadual da Serra do Mar. Aí vem a serra, que nem me incomodo de descer devagar, atrás de uma caminhão lento, porque consigo ver com mais atenção cada árvore, queda d’água e até, às vezes, alguns macacos.
Nessa travessia de carro, as pontes sobre a Represa de Paraibuna são mais um ponto de interesse. É impossível passar por elas sem virar o pescoço. Por mais que já tenha dirigido por lá um milhão de vezes, sempre olho e me alegro em perceber as mudanças sazonais da paisagem. A represa pode estar mais cheia ou vazia; as árvores secas, ou frondosas, com flores amarelas e roxas; às vezes, a neblina vence a serra e se espalha, flutuando sobra a água. Cada dia é um visual diferente.
Uma parte que pouca gente repara é no muro da represa. Mas ele fica bem de frente à estrada, pra quem está no sentido litoral. Pouco antes da cidade de Paraibuna, ele sobe gigante, coberto de grama, segurando 224 km2 de reservatório. Aquela parede sempre me interessou. Que estrutura, para aguentar tanto peso! Depois das tragédias com os reservatórios da Vale só fiquei mais impressionado e com vontade de conhecer melhor.
Também recebi uma dica de um leitor aqui do site, indicando um ponto de entrada ali perto, com um visual diferente do resto da represa. Uma coisa com cara de cânion, um lugar especial. E ainda pesquisei no Google Maps e achei uma estrutura esquisita que parecia um grande ralo. Muitas coisas interessantes para conhecer remando. Então não tive dúvidas: assim que consegui um tempo livre, peguei o carro e fui direto pra lá.
Saindo da Tamoios, peguei uma estradinha linda que passa por bairros afastados de Paraibuna. Aí entrei numa direita, na estrada de terra. Passei por algumas bifurcações, sempre acompanhando as instruções do GPS, onde tinha indicado o ponto em que dava pra encostar o carro e sair remando. A estrada é bem ruim e recomendo apenas para quem tem carro alto. Acho que nos períodos de chuva talvez só seja possível chegar com uma tração 4×4.
Parei o carro no ponto perfeito. Dalí, via, do lado direito, o muro da represa e aquele ralo gigante e, do lado esquerdo, o cânion que o amigo tinha me mostrado. Inflei a prancha e comecei a remada pra direita. Cheguei rapidinho.
O ralo na verdade é um escoadouro (também conhecido como ladrão). É um sistema de proteção da represa, pra quando ela está muito cheia. Em vez de transbordar por cima do muro, a água desce pelo ralo. Do mesmo jeito que acontece numa banheira, mas em outra proporção, claro.
Num dia de cheia, é perigosíssimo remar ali perto. Seria impossível lutar contra a força de tanta água puxada pela gravidade. O escoadouro acaba sugando tudo em volta, como um buraco negro, de onde nem a luz escapa. Mas, felizmente, fui fora da época de chuvas, com a represa bem baixa, com a entrada do ladrão alta, muito acima de mim. Dei algumas voltas nele, impressionado com o tamanho, com a obra de engenharia, com a força disso tudo. Ainda subi o drone para fazer as imagens que acompanham esse texto.
Entre o ralo gigante e o muro da represa, por causa da baixa quantidade de água, formou-se uma praia pequenina. Parei a prancha ali e escalei as pedras da barragem até o topo. A largura do muro é imensa e nele passa até uma estradinha, usada pelos funcionários da hidroelétrica. E lá de cima pude ver a Rodovia do Tamoios. Tantas vezes passei ali, de carro, olhando exatamente para onde estava agora. Que mudança de perspectiva! E estava tão alto. O muro tem 104 metros de altura, o equivalente a um prédio de 35 andares.
Do outro lado, via a imensidão de água, sem fim. Tudo vazio, sem ninguém à vista. Pensei de novo nas tragédias da Vale e que se algo acontecesse ali, não teria o que fazer. Não tinha pra onde fugir. Por via das dúvidas, resolvi descer logo e voltar a remar, me afastando do limite da represa.
Segui direto para o “cânion”, onde a paisagem era totalmente diferente do resto da represa. Vegetação e pedras que lembram mais um país temperado do que o nosso Brasil tropical. No fundo, tem uma queda d’água bem alta, porém com pouco volume. Imagino que nas épocas de chuva a quantidade de água seja bem maior, deixando o visual ainda mais expressivo.
Foi tudo em tão pouco tempo, tão perto, que tinha remado pouco e resolvi dar uma esticada pelo resto da represa, antes de volta para o carro. O vento estava tranquilo e só voltei porque ainda ia para Ubatuba e não queria chegar muito tarde. Peguei a Tamoios mais uma vez, agora conhecendo um novo pedaço do seu entorno.
Essa foi minha quarta remada pela Represa de Paraibuna. Veja as outras aqui.
DADOS DA TRAVESSIA DE SUP EM PARAIBUNA
Distância = 8,3 km
Tempo = 1 horas e 30 minutos
*esse é apenas o tempo de remada
Cidade = Paraibuna, SP
Texto e fotos: Daniel Aratangy