Belezas e dificuldades que os turistas vivenciam na Jamaica
Quando me ligaram da Latam (cia aérea), pedindo que fotografasse a Jamaica para uma matéria de turismo, quase caí pra trás. Que maravilha ser chamado para um trabalho como esse! E que sorte tenho de ganhar para conhecer os lugares mais interessantes do mundo. Aceitei na hora, claro. Foram dez dias cheios de programação. Acordávamos cedo, para pegar a melhor luz e as praias mais vazias, e íamos dormir tarde, depois de registrar os restaurantes e bares mais badalados.
20 Minutos de SUP
Como tinha outros compromissos em São Paulo, não pude estender minha estadia nessa ilha caribenha. Mas imaginei que sobrariam algumas tardes livres para remar de Stand Up Paddle. Doce ilusão! Viajamos um bom pedaço do país e perdemos muito tempo nos deslocamentos. Cada minuto do dia foi preenchido por um cronograma super extenso. No final das contas, consegui uns vinte minutos de remada numa prancha do hotel em que estávamos hospedados.
Mesmo sem remar muito, conheci as praias mais interessantes e vi muita gente de SUP. E a minha remada, mesmo curta, foi incrível. Primeiro porque foi a primeira experiência com prancha que tive no Caribe e sempre gosto de primeiras vezes, rs. Depois, porque remei do lado do aeroporto de Montego Bay, o mais movimentado do país. Parecia que dava pra encostar nos aviões, de tão perto que eles passavam.
Prefeito pra Remar
De modo geral, todas as partes da Jamaica que visitei são boas para a prática de Stand Up Paddle. A água em alguns lugares é verde, em outros é azul, mas é sempre muito transparente. Bem o que a gente imagina do Caribe. Além disso, tem muitos recifes, que deixam o cenário mais dramático e atraem muitos peixes. O vento à tarde fica um pouco mais forte, mas remando perto da costa não tem erro. Inclusive é bem comum ver gente que nunca remou aprendendo por lá.
Natureza Natural?
Apesar da beleza natural, a experiência selvagem na Jamaica é sempre mediada por uma gigantesca infraestrutura. Nos destinos que visitei não tinha como achar uma praia deserta ou pegar uma trilha e conhecer algo único. Até as cachoeiras ficam dentro de parques privados que se assemelham demais aos parques da Disney. Tudo tem filas, catracas, corrimões, escadas, teleféricos e placas, muitas placas dizendo o que pode e o que não pode fazer.
Turismo Industrial
As praias são todas tomadas por Resorts All Inclusive, um do lado do outro. Alguns até tentam parecer mais rústicos, mas todos são construções grandiosas, que se dizem luxuosas, com espreguiçadeiras e guarda-sóis alinhados, mostrando que o turismo também é uma indústria como qualquer outra, que visa o lucro acima de tudo e trata os clientes como se fossem parte de uma linha de produção. A beleza natural dá lugar a arquitetura mediana, que visa agradar todo mundo, transformando as praias em não-lugares. Parece não fazer muita diferença ficar num resort na Jamaica, na Costa do Sauipe ou em Cancun.
Diversão
Entendo que é difícil conciliar o turismo de massa com a preservação dos cenários intocados. Praticamente impossível. E um país pobre como é a Jamaica não pode se dar ao luxo de recusar turistas. Então muitas vezes, a solução adotada é transformar tudo nesse ambiente super controlado dos parques de diversão. E não vou negar que é divertido mesmo, só não sei se é o tipo de viagem que faria por minha conta.
SUP de Bambu
Entre os passeios divertidos, posso citar alguns que me impactaram mais. Em primeiro lugar está o rafting nas balsas de bambu, que é feito no rio Martha Brae. É como se fosse uma gôndola de Veneza. Tem um sofázinho na parte de trás, onde os turistas se acomodam, e um “gondoleiro” ocupa a parte da frente, onde manuseia um longo bastão de bambu, que serve para empurrar a embarcação para a frente. O passeio não tem nenhuma corredeira radical, mas passa por uma linda floresta tropical. Alguns pedaços das margens estão ocupados por vendedores de souvenires e suas barracas improvisadas.
Depois de algumas paradas para fotografar, pedi ao condutor da balsa que me deixasse remar também. Sentado ali atrás, parecia que estava sendo levado num grande SUP. De pé, consegui perceber melhor as diferenças. A balsa é super estável, não vira de jeito nenhum. E a remada não é propriamente uma remada. A ideia é usar o bastão para atingir o leito do rio, empurrando-o para trás e impulsionando a embarcação para frente. Uma lógica diferente de propulsão, mas também muito divertida.
Depois do passeio, a empresa que administra essa atração, recolhe as balsas em caminhões e as leva rio acima, até o ponto de partida. Fico pensando como isso era feito antigamente. Afinal, o condutor me contou que as balsas eram usadas desde o tempo em que a Jamaica era uma colônia Inglesa. Nelas carregavam bananas até os portos do litoral. Para subir o rio, devia ser bem mais difícil que descer.
Rick’s Café
Outra atração é o famoso Rick’s Café, na costa sinuosa de Negril. Lá, o americano Rick construiu seu bar em volta de um penhasco de pedra. Ele fica sobre o mar e as pessoas fazem fila para pular dos três pontos de salto, todos caindo numa linda piscina natural. O bar fica completamente lotado de turistas, principalmente no período da tarde. O próprio pôr do sol é um espetáculo aplaudido no local.
Fotografei o bar de todos os ângulos possíveis e fui dar meu próprio salto. Fui na plataforma intermediária, com oito metros de altura. Dá um certo frio da barriga, mas a sensação é revigorante. Se tivesse mais tempo, daria mais saltos e da altura maior também.
Uma coisa que chama a atenção no Rick’s Café é a participação incessante de um animador de balada. Não basta a música pop no volume máximo. Ainda tem uma pessoa gritando no microfone, dizendo como se divertir. Agora é a hora de bater palmas. E todos batem palmas. Agora é hora de socar o céu. E todos dançam socando o céu. Do ponto de vista antropológico, é bem interessante de assistir.
Blue Hole
Por último, gostaria de citar o passeio no Blue Hole, uma série de cachoeiras com água azul turquesa nas proximidades de Ocho Rios. Tem alguns ângulos que dá pra imaginar bem como esse lugar era antes do turismo chegar mudando tudo. Hoje há escadas para chegar em cada parte do rio e é proibido andar sozinho pelo espaço. Os visitantes ficam literalmente (!) de mãos dadas com um guia a cada passo. Rampas e tirolesas foram construídas para dar um ar radical. E pular das plataformas realmente aumenta a adrenalina no corpo. Me empolguei pulando de cabeça, com a desculpa de estar ajudando meu colega que captava as imagens de vídeo para a Latam. Como disse no começo, tenho muita sorte de ter um trabalho assim!
Texto e fotos: Daniel Aratangy