Remando na natureza selvagem
Quase não consegui remar em Galápagos. Depois que já tava com toda a viagem planejada fui informado que não poderia levar a prancha. Entrei em pânico, rs, mas fui pesquisar.
LUGAR PRESERVADO
O arquipélago só se manteve tão preservado porque, em primeiro lugar, é muito distante de tudo e o solo vulcânico não é bom para a agricultura. Assim, Galápagos demorou para ser habitado por humanos. Esteve sempre isolado do resto do mundo. Em segundo lugar porque, depois que o local recebeu interesse turístico, o governo equatoriano instituiu uma série de regras para visitação. Uma das mais importantes é que todo grupo de turistas deve ser acompanhado por um guia treinado e certificado. Ninguém pode caminhar sozinho ou explorar o que bem entender.
REGRAS DE VISITAÇÃO EM GALÁPAGOS
Além disso, apenas alguns pontos específicos (uma parte ínfima do território) podem receber visitantes. E cada local tem um número máximo de pessoas que comporta. Por isso, as operadoras de turismo local “compram” do governo cotas de utilização. Cada cota indica um LOCAL, a QUANTIDADE de PESSOAS, um DIA e HORÁRIO e a ATIVIDADE permitida. E foi nesse ponto que tive problemas.
Já tinham me falado que o único jeito de conhecer Galápagos é de barco, então nada melhor do que ficar hospedado em um. Foi exatamente isso que tinha fechado. Sete dias num veleiro percorrendo quase todas as ilhas. O que eu não sabia é que não há espaço para improvisação. Todas as permissões são tiradas com grande antecedência. E o barco que eu tinha agendado não tinha permissão para SUP.
CONDIÇÕES PARA REMAR EM GALÁPAGOS
Depois de muita pesquisa e muita troca de e-mails, consegui entender melhor a burocracia local e descobri que o veleiro tinha permissão para a prática de caiaque. Então foi só insistir um pouco mais que o pessoal acabou autorizando minhas remadas. As únicas condições eram que: nunca saísse do campo de visão do guia, nunca deixasse a prancha sozinha na praia e respeitasse os horários que eles tinham reservado para a atividade de caiaque.
Dessa forma, até que consegui remar em vários locais, mas sempre distâncias curtas. Não foram travessias propriamente ditas, apenas passeios tranquilos, remando devagar e aproveitando o contato intenso com a natureza. E aliás, que natureza! Com tanto esforço para a preservação, Galápagos é realmente um lugar selvagem, com muitos animais, tanto dentro do mar quanto sobre as ilhas.
LEÕES-MARINHOS DE GALÁPAGOS
Remar junto com eles foi uma experiência extraordinária. Principalmente com os leões-marinhos. Esses animais de meia tonelada estão por toda parte. Aos poucos, deu pra perceber como cada um tem uma personalidade. Alguns ficam mais isolados, enquanto outros gostam de interagir com as pessoas. Vi até um que colecionava conchas!
GALÁPAGOS E A TEORIA DA EVOLUÇÃO DE DARWIN
Além dos leões-marinhos também encontrei tubarões, golfinhos, iguanas, tartarugas, arraias, pelicanos, pinguins e uma infinidade de pássaros. Essa diversidade toda é algo fora do comum. Não é atoa que Darwin desenvolveu sua Teoria da Evolução com os dados que coletou em Galápagos. Primeiro porque ali há animais e plantas que não existiam em nenhum outro lugar do mundo. E depois, porque percebeu que cada ilha do arquipélago abrigava sua própria variação dessas formas de vida, indicando que o surgimento das espécies era consequência de um longo processo de diversificação aleatória e constante seleção natural, sempre favorecendo as espécies mais adaptadas.
Minha primeira remada no arquipélago foi exatamente no lugar onde Darwin desembarcou do Beagle, 182 anos antes. O mais bacana é que, depois de tanto tempo, Galápagos ainda é a mesma. A teoria de Darwin deu fama ao local e ajudou a preservá-lo. Com o turismo ecológico, essa “terra improdutiva” passou a gerar riqueza e quanto mais intacta ela for, mais interesse vai despertar. Por isso, acredito que continuará um santuário da natureza para sempre.
Texto e fotos: Daniel Aratangy