Lutando Contra o Vento Forte no Canadá
Com tantas remadas por aí, era de se esperar que eu me enfiasse numas enrascadas de vez em quando. Mesmo com todo o planejamento que faço antes de cada travessia, o imponderável pode ser implacável. E tenho que confessar que gosto um pouco do risco, de tentar fazer o que nunca foi feito, de testar meus limites e de aprender a me virar em condições adversas. Foi nesse espírito que acabei parando na pista de pouso e decolagem do Aeroporto de Toronto. Só espero não ter atrapalhado muito a vida de outras pessoas.
Depois entrei pelos canais da ilha, que são bem abrigados. Remei com calma pra conhecer esse que é um dos principais pontos turísticos da cidade de Toronto. O lago estava inundado e tive que me abaixar para passar sob as pontes do parque. Em algumas tive até que deitar na prancha. O visual era bem bucólico: árvores, campos abertos e muitos pássaros, inclusive cisnes.
Quando deixei os canais para trás, voltei a sentir a força do vento. Agora teria que remar perpendicularmente a ele para não parar no aeroporto. Eu via os aviões subindo e descendo, mas pareciam bem distantes. O vento lateral ficou cada vez mais forte. Percebi que não estava fazendo o trajeto em linha reta, como gostaria, mas sim numa diagonal. O vento era tão intenso que já não dava mais para voltar. Resolvi seguir em frente, remando sentado, com toda a energia que eu conseguia dispor.
Logo me aproximei de uma boia de sinalização que dizia em letras garrafais KEEP OUT (mantenha-se longe). Pensei que devia ter uma pedra ali perto e tentei me afastar, avançando ainda mais. Foi então que vi que aquela boia não estava sozinha, ela fazia parte de um conjunto de duas linhas de boias, em formato de V. Elas delimitavam o espaço reservado para os aviões e eu estava cada vez mais no meio dele.
Um barco com muitas luzes piscando se aproximou, mantendo-se fora da linha das boias. Os ocupantes acenavam com força e gritavam alguma coisa que eu não conseguia ouvir, mas podia muito bem imaginar. De qualquer modo, não tinha o que fazer, não dava para eu voltar, seria ainda pior. Remei com mais intensidade, chegando a poucos metros da pista propriamente dita. Quando estava a centímetros do asfalto, achei que ia bater e teria que seguir a pé, invadindo o aeroporto. Mas consegui me recuperar e passei a pista.
Com muito esforço, cheguei exausto no centro de Toronto. Esperava ser recebido por uma comitiva de policias. Coisa que felizmente não aconteceu. Acho que atrasei alguns voos, mas ninguém se feriu, nem fui preso. Então até que não foi tão mal, né? Rs.
DADOS DA TRAVESSIA DE SUP NO CANADÁ
Distância = 9 km
Duração = 1 hora e 40 minutos de remada
Condições = Vento de 12 nós vindo de leste
Cidade = Toronto, Canadá
ALUGUEL DE PRANCHA DE STAND UP PADDLE EM TORONTO
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Texto e fotos: Daniel Aratangy