Dicas de travessia de SUP
dicas

Pontos de Referência

Chego na praia, pego minha prancha e corro para o mar. Subo no Stand Up já remando, sem nem olhar para trás. Quando volto da travessia, vejo a praia onde tudo começou e não encontro o ponto de partida. “Onde foi mesmo que parei o carro”? Olho para um lado e para o outro, de ponta a ponta, e não reconheço nada. “Será que passei do lado daquele quiosque? Ou será que foi aquele outro? Acho que não tinha quiosque nessa praia hoje mais cedo”. E assim vai…

Passar por esse processo é um clássico das remadas. Uma hora, acontece com todo mundo. Mas para evitar é simples. Antes de se afastar muito do ponto de partida, dê uma boa olhada para trás. Imagine você chegando mais trade, a vista que terá. Veja se, perto de onde estacionou o carro, tem uma árvore que se destaca, mais alta ou florida, uma antena de celular, uma caixa d’água, ou qualquer outra coisa que chame a atenção. Marque mentalmente esse ponto e o utilize quando estiver no caminho contrário, terminando sua travessia.

Volta completa na Ilha Grande
Imagem do trajeto de volta completa na Ilha Grande – RJ

Nas duas vezes que fiz a circum-navegação da Ilha Grande saí remando de uma praia pouco conhecida de Angra dos Reis. Quando voltava da primeira travessia, olhei para a costa e vi o litoral de Mangaratiba até Paraty. Não tinha a menor ideia de onde ficava a praia de onde tinha saído. Comecei a remar na direção de Angra na esperança que a proximidade me trouxesse alguma lembrança. E, ainda bem, acabei mesmo lembrando que a praia de partida era logo ao lado do estaleiro da Petrobrás. Ali, os operários constroem as plataformas de petróleo e a estrutura é gigantesca. De longe percebi que era a maior construção que se via do mar. Por sorte, então, era muito fácil de achar. E, na segunda vez que fiz essa mesma travessia, já sabia para onde remar na volta.

Aprendi no livro Vou De Canoa, da Luiza Perin, que os polinésios usavam uma tática semelhante enquanto avançavam de ilha em ilha, no Oceano Pacífico. Eles saíam em suas canoas sem saber se encontrariam terra habitável à frente, então precisavam ter certeza que conseguiriam voltar. Para isso, se afastavam lentamente do ponto de partida. Quando a noite surgia, viam qual constelação estava sobre a ilha que tinham deixado para trás. Se precisassem voltar, era só apontar a proa para aquela constelação.

Além de serem úteis na chegada, os pontos de referência também podem ser usados para acompanhar o progresso durante a remada. E podem ser marcados, já nas primeiras olhadas no mapa, antes mesmo de começar a travessia. Com as imagens de satélites (no Google Maps, ou equivalente), levante pontos relevantes do trajeto, como grandes pedras, parcéis, penínsulas e ilhas, ou mesmo casas, hotéis e vilarejos. Depois relacione cada ponto com a distância. Assim você terá informações do tipo: “quando chegar naquela ilha já vou ter feito 2/3 do caminho”, ou “passando aquele hotel só vão faltar 5 km para terminar a travessia”.

Ilhote da Praia de Dois Rios
Procure árvores altas e floridas, caixas d’água, antenas, parcéis, ilhotes, tudo que se destaque para servir de ponto de referência

Os acessórios eletrônicos já fazem essa função, eu sei. Porém, nas grandes travessias, não dá para contar que eles funcionarão sem incidentes. Até por motivos de segurança, você deve ser capaz de saber onde está, o tempo todo. E com isso, saber traçar o melhor trajeto para chegar no destino desejado. Isso vai te dar autoconfiança, tranquilidade e foco.

Texto e fotos: Daniel Aratangy

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *