SUP na Neblina do Reservatório Rio das Pedras
Cada remada é uma realização
Costumo dizer que cada travessia que faço é a realização de um sonho. Digo isso porque tudo começa com uma ideia. “E se eu remasse dali pra lá?” Aí começo a pesquisar. Vejo fotos na internet. Penso os trajetos, no Google Maps. Acompanho a previsão do tempo, a velocidade e a direção do vento. Às vezes leva meses ou até anos até que, finalmente, eu faça a travessia propriamente dita. Mas não importa. Ela começa quando tenho aquela ideia. Aí vira um sonho, uma coisa que quero muito fazer.
Foi assim quando planejei a Volta na Ponta da Juatinga, quando remei em Galápagos e quando atravessei a fronteira do Canadá para os EUA. Essa remada que narro aqui parece mais simples, mas também foi um sonho. E como todo sonho realizado, provocou imenso prazer.
Como descobri o reservatório
Tudo começou na ponte aérea São Paulo – Rio de Janeiro, muitos anos atrás. Logo que o avião decolou reparei nas represas, no caminho do litoral. Vi a famosa Billings, que abastece de água a cidade de São Paulo. E vi também uma menor que me chamou muito a atenção. Ela ficava bem na beira de um precipício, em cima da Serra do Mar. Apenas poucos metros de terra separavam a água do abismo até Santos e Cubatão.
Todas as vezes que fui pro Rio, desde então, fiz questão de sentar do lado direito, para ver todo o litoral, mas também para observar essa represa que me encantou.
A pesquisa
Meses depois fui procurar o nome. Ela se chama Reservatório Rio das Pedras. Foi construída em 1923 pelo engenheiro Asa Billings e tem área de 7,6 km2. Depois passei a observá-la no computador, pelo Google Maps. Pensei em trajetos interessantes. Ali toda a margem é preservada, porque faz parte do… Então, o visual é mesmo especial.
Em seguida, procurei possíveis pontos de entrada na represa. Olhando do alto não dá para saber. Às vezes tem mata muito fechada que não dá pra passar, outras vezes tem um descida muito íngreme que não dá pra descer. Então usei o Google Street View para analisar as possibilidades. Centrei minha investigação em pontos próximos a pontes, que costumam ser promissores. E achei um lugar perfeito. Na tela do computador dava pra ver carros parados no acostamento e pescadores nas margens da represa.
Começo da remada
Mais alguns meses se passaram até que resolvesse concretizar o plano. Num dia de sol forte em São Paulo, saí cedo de casa e cheguei lá em uma hora, aproximadamente. Já imaginava as imagens que ia fazer com o drone. A represa ali no alto e o mar logo ao lado, só que lá embaixo.
Quando cheguei na ponte planejada, o sol tinha sumido completamente. Uma neblina densa tomou conta de toda a paisagem. A visibilidade estava bem baixa. Mesmo assim, enchi a prancha e botei na água. A visibilidade foi ficando cada vez menor até que me vi cercado por uma parede branca. Não tinha nenhum ponto de referência. Só conseguia ver a água em torno da prancha, mais nada. Tudo que estivesse a mais de três metros de distância era invisível.
Navegação complicada
É óbvio que me perdi. Não tinha como acertar a direção da remada. Eu consultava o mapa no meu celular e ia, mas cinco minutos depois, quando eu consultava de novo, já estava remando na direção contrária. Foi então que percebi uma constante. O vento não estava variando muito. Aí olhei o mapa mais uma vez, acertei meu rumo e prestei atenção em como o vento atingia meu corpo. Então era só remar com ele batendo na minha bochecha direita que daria tudo certo? Mais ou menos. Melhorou bastante. Não precisei checar o celular a cada minuto, mas o percurso final foi um grande zigue-zague.
Como eu tava com bastante bateria, não fiquei preocupado. Pelo contrário. Adorei essa experiência de navegação às cegas. A curtição não foi conhecer o lugar mais bonito, ou remar da maneira mais rápida. Me diverti me perdendo e me achando, levando sustos (quando uma ilha aparecia do nada) e vencendo o desafio.
Chuva
Fui até uma outra ponte, que fica ao lado da portaria da Estrada do Mar. Ali começou a garoar e em seguida a chover. “Estacionei” sob a ponte na esperança que a chuva diminuísse e aproveitei pra comer o lanche que tinha levado. Mais de meia hora depois nada mudou. Resolvi voltar mesmo assim, até porque tinha acabado de descobrir um furo na minha prancha. Usei a mesma técnica de navegação, só remando um pouco mais forte e cheguei rapidinho no lugar onde tinha deixado o carro. Guardei tudo, liguei o aquecedor no máximo e segui pra casa.
DADOS DA TRAVESSIA DE SUP NA REPRESA
Distância = 10 km
Duração = 2 horas
Condições = vento de 8 nós vindo de sul
Cidade = São Bernardo do Campo, SP
COMO CHEGAR NO RESERVATÓRIO RIOS DAS PEDRAS
De carro é só seguir em direção à Estrada Velha de Santos, chamada de Caminho do Mar
ALUGUEL DE PRANCHA DE SUP
Nas minhas pesquisas não achei nenhum lugar que alugue prancha lá – melhor levar a sua
Texto e fotos: Daniel Aratangy