Na última dica, apresentei o conceito de backwash: o fenômeno de rebote das ondas nos paredões de pedra. É ele que deixa o mar ainda mais arisco e a prancha de stand up mais instável, com a sensação de ondas que vêm de todos os lados. Para evitar seus efeitos negativos, recomendei uma remada afastada da costa, mas acabei não mencionando que também podemos usar a força do backwash a nosso favor.
É isso mesmo. Com a leitura correta das forças em ação, o que era para ser um contratempo, passa a ser um recurso que trás bem mais vantagens do que dificuldades. Aprender a usar a potência das ondas rebatidas nos ajuda a economizar energia e, assim, conseguimos ir mais longe, fazendo menos esforço.
Infelizmente não é sempre que conseguimos aproveitar essa força a nosso favor. Para que isso seja possível, algumas condições devem estar presentes:
- A remada deve seguir em sentido contrário às ondas que vêm do mar aberto.
- As ondas rebatidas devem seguir, predominantemente, o sentido da nossa remada.
Se estivermos remando a favor das ondas que vêm do oceano, já estamos num downwind e o backwash só vai nos atrapalhar. Se as ondas rebatidas não seguirem uma direção predominante, ou seja, se vierem de direções diferentes, elas só vão deixar a prancha mais instável e diminuir a eficiência do nosso progresso.
O backwash ajuda mais quando ele é “limpo” – quando segue quase que uma única direção. Essa direção não precisa ser exatamente a nossa, mas deve ser próxima.
Um bom exemplo ocorreu numa remada curta que fiz entre a praias do Lázaro e a das Sete Fontes, em Ubatuba, no litoral de São Paulo. No caminho entre as duas praias passei por uma menor chamada Sununga. A Sununga é conhecida por ser um dos melhores lugares do Brasil para a prática de skimboard, o antigo sonrisal, aquela pranchinha fina que os praticantes jogam na areia molhada, pulam em cima e deslizam até o mar, fazendo manobras espetaculares. Lá na Sununga, as ondas se comportam de uma maneira muito peculiar. Em vez de virem de frente, do mar, elas vêm rebatidas das pedras e correm paralelas à faixa de areia. Quando um surfista pega onda, não vai em direção à praia; ele segue de lado, percorrendo a extensão da praia.
Quando entrei na baía da Sununga, o vento e as ondas vinham em sentido contrário. Não eram muito fortes, mas exigiam um certo esforço. Minha tendência natural seria seguir numa linha reta, de uma ponta da baía à outra, fazendo o caminho mais curto. Porém, ao olhar para a península ao meu lado, reparei que era formada por um paredão de pedra regular, como se fosse uma única rocha, reta e bem vertical, como um muro. Essa superfície de contato, lisa e uniforme, rebatia as ondulações de forma limpa e também uniforme. As ondas voltavam todas na mesma direção, paralelas à praia e voltadas para o mesmo lado que apontava a proa do meu SUP.
Não perdi tempo. Remei para dentro da baía alguns metros, fazendo um desvio no caminho e, depois, voltando a apontar a prancha para a outra península, à frente. Esse pequeno adendo no percurso fez com que o SUP fosse pego pelo backwash. Naquele momento, mesmo com as ondulações e o vento contra, eu era magicamente empurrado para frente, exatamente como os surfistas na praia ali ao lado. Eu deslizava nas ondas rebatidas como se estivesse num downwind. Assim, avancei mais rápido e me esforçando menos.
O uso do backwash numa baía, entre duas penínsulas, é o mais comum, mas já encontrei outras situações em que pude aproveitar essa força a meu favor.
Em uma das remadas que fiz na Riviera Turca, também com vento e ondas contra, passei por um pedaço do litoral sem baías nem penínsulas. Era uma costa longa com pedras. Apesar de ser uma costa bem irregular (inclusive com grutas), as pedras avançavam sobre o mar sempre na diagonal – como nesse desenho abaixo. O ângulo de inclinação das pedras, relacionado ao ângulo de incidência das ondas, provocava o backwash perfeito para a direção que eu estava seguindo. Mesmo com as condições de mar e vento desfavoráveis, segui bem perto da costa, aproveitando ao máximo a força das ondas rebatidas.